Touriga Nacional

Origem da casta: Norte de Portugal. Classificada por Lobo (1790) nas sub-regiões do Douro e das Beiras. Caracterizada por Fonsecca (1790).

Região de maior expansão: Inicialmente, Dão e Douro. Nos últimos 10 anos, em todas as regiões do país. Com implantação internacional em Espanha, África do Sul, Austrália (39 ha), Califórnia e Brasil.

Sinónimos oficiais (nacional e OIV): Touriga (AU).

Sinónimos históricos e regionais: Preto Mortágua (Dão, Setúbal), Tourigo (Dão), Touriga Fina (Douro), Alvarelhão (por erro, só na Califórnia).

Homónimos: Existem ainda Touriga Branca (n.º oficial 319), Touriga Fêmea (n.º oficial 311), Touriga Franca (n.º oficial 312).

Superfície vitícola atual: 6.700 ha.

Utilização atual a nível nacional: 10,35%.

Tendência de desenvolvimento: Significativamente crescente.

Intravariabilidade varietal da produção: Intermédia.

Qualidade do material vegetativo: Material policlonal para conservação da intravariabilidade (RNSV); clones 16, 108, 112 JBP, 17-23 ISA.

Classificação Regional

Vinho de Qualidade DOC: «Porto», «Douro», «Távora-Varosa», «Bairrada», «Dão», «Beira Interior» (todas as sub-regiões), «Óbidos», «Alenquer», «Arruda», «Torres Vedras», «Lagos», «Lagoa», «Tavira».

Vinho de qualidade IPR: «Valpaços», «Planalto Mirandês». Vinho regional: «Minho», «Trás-os-Montes», «Beiras» (todas as sub-regiões), «Estremadura», «Ribatejo», «Terras do Sado», «Alentejo», «Algarve».

Morfologia

Extremidade do ramo jovem: Aberta, com orla carmim e média densidade de pêlos prostrados.

Folha jovem: Verde com tons acobreados, pág. inferior com média densidade de pêlos prostrados.

Flor: Hermafrodita.

Pâmpano: Estriado de vermelho, com gomos ligeiramente avermelhados.

Folha adulta: Pequena, pentagonal, com cinco lóbulos; limbo verde-médio, plano e bolhoso; página inferior com média densidade de pêlos prostrados e de pêlos erectos; dentes curtos e rectilíneos; seio peciolar aberto, em V, seios laterais abertos, com base em U.

Cacho: Pequeno, cilindro-cónico, medianamente compacto, pedúnculo de comprimento médio.

Bago: Ligeiramente achatado, médio e negro-azul; película de espessura média, polpa mole.

Sarmento: Castanho escuro.

Fenologia

Abrolhamento: Precoce, 2 dias após Castelão.

Floração: Precoce, em simultâneo com a Castelão.

Pintor: Época média, 2 dias após a Castelão.

Maturação: Época média, uma semana após a Castelão. (Magalhães, 2006, comunicação pessoal: no Douro, maturação tardia, geralmente das últimas a ser vindimadas, para que se atinja a conveniente maturação fenólica.)

Potencial Vegetativo

Vigor: Elevado.

Porte (tropia): Deitado, retombante.

Entrenós: Médios/curtos, regulares.

Tendência para o desenvolvimento de netas: Média/elevada.

Rebentação múltipla: Muito frequente em poda curta.

Índice de fertilidade: Muito elevado.

Produtividade: Em material tradicional, muito baixa (3-5 t/ha); em clones, média a elevada (8-15 t/ha). Valores RNSV: 0,88 kg/pl (média de, no mínimo, 40 cultivares, registada em Vila Nova de Foz Côa, durante 4 anos).

Estabilidade da produção (diferentes anos e localidades): Elevada em materiais clonais.

Homogeneidade de produção (entre as plantas): Elevada.

Índice de Winkler (somatório de temperaturas ativas): 1.610 h acima de 10° C com 11 t/h de produção (Montemor-o-Novo). A casta, apesar do elevado valor térmico, atinge em zona quente boa maturação devido à resistência à podridão e à oxidação

Sensibilidade abiótica: Carência de Magnésio em determinadas situações, Escaldão com seca.

Sensibilidade criptogâmica: Pouco sensível ao Míldio e ao Oídio; sensível à Escoriose.

Estado sanitário (sistémico) antes da seleção: 17% GLRaV1, 30% GLRaV3, 10% GLRaV 2+6, 25% GFkV, >50% RSPV.

Sensibilidade a parasitas: Fraca sensibilidade à Cigarrinha Verde e à Traça.

Tamanho do cacho: Pequeno e alguns médios (95-250 g).

Compactação do cacho: Medianamente compacto.

Bago: Pequeno (0,9-1,8 g), variando conforme o clone e o ambiente, difícil de destacar.

Película: Espessa.

Nº de graínhas: Médio-elevado (1,2-2,7 por bago).

Potencial Agronómico

Sistema de condução: Qualquer, desde que se considere os seus hábitos de vegetação e se condicione o vigor. No caso de condução moderna e novos clones produtivos, evitar excesso de produção nos anos iniciais da plantação, por causar enfraquecimento da planta ou mesmo degradação da sebe.

Solo favorável para obter qualidade: Todos os tipos de solos, mesmo os pesados e férteis.

Clima favorável: A casta exige elevada insolação e calor.

Compasso: Todos os possíveis, desde que esteja adaptada a condução e controlada a vegetação.

Porta-enxertos: Requer os porta-enxertos menos vigorosos, mas tem bom comportamento com a maioria dos porta-enxertos, desde que correspondam à fertilidade e disponibilidade hídrica do solo, não se recomendando 140 Ru, Aramon e Rupestris du Lot.

Desavinho/Bagoinha: Reduzida susceptibilidade no material clonal, muito elevada no material tradicional (Tourigão/Douro).

Conservação do cacho após maturação: Casta para ser geralmente vindimada tarde, com resistência às chuvas de Outono. 

Proteção contra ataques de pássaros: Deve ser protegida na fase final da maturação.

Aptidão para vindima mecânica: Boa aptidão para vindima mecânica, desde que tecnicamente seja possível.

Potencial Enológico

Tipo de vinho: Vinho de qualidade, vinho do Porto, espumante, vinho rosado.

Grau alcoólico provável do mosto: Elevado (14% vol.). Valores RNSV: 12,29% vol. (média de, no mínimo, 40 cultivares, registada em Vila Nova de Foz Côa, durante 6 anos).

Acidez natural: Média-alta, 4,5-6,0 g/l total; (acidez málica: 1,2 g/l, acidez tartárica: 4,3 g/l). Valores RNSV: 3,57 g/l (média de, no mínimo, 40 cultivares, registada em Vila Nova de Foz Côa, durante 5 anos).

Autocianinas totais: 1.290-1.590 mg malvidina/l.

Índice de polifenóis totais (280nm) do mosto: 50-80 IPT conforme clones.

Sensibilidade do mosto à oxidação: Pouca.

Intensidade da cor: 10-20 I, conforme clone.

Tonalidade: 0,6-0,8 T.

Sensibilidade do vinho à oxidação: Pouca.

Análise laboratorial dos aromas: Compostos precursores do aroma – Análise no Douro/1999: Tem concentrações mais elevadas (150 μg/l) em terpenos livres, presentes acima do limite de percepção olfactiva, responsáveis pelos aromas florais. Destaca-se com 50% o Linalol. Em comparação com as outras castas, tem o maior teor em ß-Damascenona (4 μg/l) e de uma maneira geral mais Norisoprenóides. No Dão (2003) foi confirmada a extrema superioridade da casta nos compostos terpénicos: Linalol 65 μg/l, Citronelol 19,2 4 μg/l, Nerol 24,2 μg/l, Geraniol 23,5 μg/l. A influência da irrigação em diferentes tipos de solos mostrou a possibilidade de manter a concentração de carotenóides e ao mesmo tempo aumentar o potencial alcoólico (AGRO 313).

Capacidade de envelhecimento do vinho: Muito elevada, com particular aptidão para envelhecimento em madeira.

Recomendação para lote: Aragonez, Touriga Franca, Tinto Cão, Trincadeira, Tinta Barroca.

Potencial para vinho elementar: Muito boa aptidão.

Caracterização habitual do vinho: «O aroma é macio, redondo e quente, lembrando frutos silvestres vermelhos escuros, quase pretos, muito maduros, com algumas passagens florais de predominância para violeta, mostrando nos bons anos um excelente perfume doce, semelhante ao da esteva.» (N. Almeida, 1990/98).

Qualidade do vinho: Muito elevada, «casta-piloto».

Particularidades da casta

Particularidade da casta: Casta de máximo valor enológico (casta-piloto) em zona quente, com elevada intensidade das componentes de cor, aroma e elevadíssima complexidade. Reduzida qualidade no caso de insuficiente insolação, ou de falta de disponibilidade hídrica. Escaldão no caso de excessivo stress hídrico. Alguns dos clones recentes mostram elevada produtividade, sobretudo nos primeiros anos, influenciando negativamente a regularidade da produção e o vigor da planta, a médio prazo.

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